Miniconto 131* - Olência
- Gessica Borges
- Minicontos
- March 7, 2014
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Vi Olência sair do mercado Carregando um punhado de sonho Outro de liberdade Tinha um arroxeado no olho Lembrando-a que tudo aquilo era muito caro.
Vi Olência sair do mercado Carregando um punhado de sonho Outro de liberdade Tinha um arroxeado no olho Lembrando-a que tudo aquilo era muito caro.
Não há pinga que cure. Pinga pura, descendo quente na garganta de fome. Dorme que passa. Trabalha que cansa. Lava, torce, amassa. Coloca na cabeça e atravessa a mata. Em casa, pinga. Dose para criança. Solução homeopática de vida miserável. Vai para a cidade, moça. Lá não pinga, escorre fartura. Só que pinga, sim. Pingão grosso que escorre da parede e molha o colchão surrado. Alaga o quarto. Vai, menina: lava, puxa, limpa. Se não guentar, pinga que passa. Pinga que passa a tristeza. Passa canseira, passadeira, passa até saudade da terra onde há tempos não pinga. A gente aqui não tem vereda, só vive. Vai vivendo, assim, nesse pingue-pongue, às vezes punga, e no final sempre pinga, queimando a garganta. Alívio de alma vendida. Já no fim da vida, a menina, azoada, cai de boba. Não dorme sem pinga. Não acorda sem pingar o olho. História que amarga a boca. O rosto enruga, murcho de esperança. Lá se foi a criança. Não há pinga que cure.
Read MoreColoria virtualmente os desenhos, para sobreviver em sua própria vida em preto e branco.
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