Master of None e tudo aquilo que angustia a gente

Master of None é de fuder. Claro que essa não é uma opinião crítica com base técnica, mas, bem, a experiência vale como opinião, não vale? Vale. Aziz Ansari, criador, produtor e protagonista da série, fez um ótimo trabalho comigo como espectadora, sem que eu percebesse. Ao final de cada episódio, fui tomada por uma emoção problemática, que mistura identificação e, ao mesmo tempo, angústia.

A série trata de temas atuais e importantíssimos, como preconceito, feminismo e… deslocamento psicossocial que todo jovem entre 25 (eu!) e 30 (eu, daqui a pouco =/) passa. Mas também trata de coisas simples da vida, que muitas vezes a gente nem percebe acontecer, nessa chuva de atualizações e interações digitais que vivemos. Essas coisas simples transforma-se em alguns dos filtros que usamos para encarar a vida.

Em um dos episódios, por exemplo, Dev (Aziz) ganha uma máquina de fazer massa, fica superfeliz porque massa é seu prato predileto, mas nunca a utiliza, por que “gosta de massa, ama massa, mas é muito mais fácil comê-la pronta”. Isso não diz muito sobre que tipo de geração estamos construindo com todos esses facilitadores que temos hoje? Uma geração que acha velha e inadequada a expressão “mão na massa”. Ahn?! ;)

Além disso, a produção é uma colagem interessante de personagens. Não é sempre que se vê descendentes de indianos, asiáticos e uma negra no elenco principal de uma série (os brancos já são comuns, o que não é demérito nenhum para Arnold – amigo supersincero e meio maluco de Dev – e Rachel – seu par romântico.).

Essa colagem reflete em temáticas ácidas e que, ao mesmo tempo que nos faz rir, nos joga numa piscina de reflexão sobre como estamos impregnados de racismo e sexismo, como menosprezamos a nossa relação (e a história) dos nossos pais, como encaramos os papéis de gênero, a velhice, o casamento e a relação do tempo com as nossas escolhas de vida (sempre a sensação de que “estamos velhos para”, né?).

Parece tudo muito complexo, e acho mesmo que é, mas a mágica da série é justamente essa: esse tudo de coisas passa em episódios de 30 minutos, muito bem ilustrados (mesmo, a fotografia é demais), didáticos e engraçados. Vale tão a pena!

A trilha sonora é um show à parte (tem no Spotify!) e suscita uma melancolia gostosa (sim!) e um saudosismo que não dá pra saber de onde vem. De novo, Aziz e sua equipe são mestres em mexer com nossos sentimentos de forma muito sutil e filha da puta.

No season finale, além da saudade daqueles com quem você compartilhou por dez episódios suas neuras, inseguranças, gostos e expectativas, fica uma coceirinha moral incontrolável e a necessidade de uma (ou várias) sessões de terapia que te ajudem a responder a fiel e inevitável pergunta da crise dos vinte e poucos anos: what the fuck eu quero da minha vida?

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