Máquina da Angústia

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Dentro do quarto disforme, alguma coisa se agita incansavelmente, deixando o ar pesado e árido, quase impossível de inalar (antes não fosse possível…)

Líquido vermelho é distribuído e, logo depois, retirado numa carreira de linhas azuis e vermelhas que trabalham com rapidez incomum, como se respondendo às ordens de alguém com muita pressa, ou muita bravura. (Sendo a segunda opção a mais próxima da realidade…)

Algo ácido se mistura com o líquido vermelho, causando uma sensação de enjoo já conhecida pela construção que comporta o quarto: aquela revolta irritante dos fluidos impulsionados pelo liquidificador que, ao mesmo tempo que os mistura, vai dilacerando cada parede de quarto, abrindo feridas que há muito não ficavam expostas, e trazendo à construção um ar cansado e triste.

Para melhorar a confusão, tudo vira-se de cabeça pra baixo, e depois volta ao normal, para tornar a virar, numa sádica brincadeira desordenada que faz o prédio balançar e, por vezes, desabar em cinzas, para reerguer-se em seguida, como Fênix.

No decorrer dessa agitação cotidiana, a garota sente cada vez menos vontade de permanecer, até por que, absolutamente perdida se sente, nos labirintos da construção que a sustenta há 19 anos.

(Que injustiça perder-se nas próprias bases…)

Cinza e frio, o cimento-alicerce à garota serve como consolo, subtraindo o sonho pela necessidade de manter-se erguido.

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