Diário de um golpe

Aqui onde A mulher preta tampa O rosto, a cor, a alma Com base branca Onde são quatro Os filhos da moça Dois descalços Dois sem touca Na cinza manhã fria O orelhão ainda é Uma ponte pra Bahia Aqui onde Sente como uma mocinha! Preto não sai da linha Que a senhora tricota Com o cerne entristecido Aqui onde O homem vende espetinho Alheio aos direitos dos bichos E dos humanos O chicote estrala na viela O soco cala a boca dela Eles invadem Sem mandado, sem sequela E eu sou livre Para cobiçar o pulo Da plataforma de ferro acobreado Aqui onde todo dia é 64 E nada está nos trilhos.

Related Posts

MIniconto 98 * - Ao mestre, com amor.

Confesso que minha melhor qualidade é a maior parte de mim que odeia você.

Read More

Miniconto U - Use camisinha

Fora do útero, ele urrou, urinou, ululou e acabou com a universal utopia maternal.

Read More

Denúncia

À tinta, às pessoas insensatas e aos bêbados, permanecia. Dura como ferro, apesar de acabada. (coitada!) A beleza há tempos já não era a mesma: O rosto desbotado e humilhado, O tronco envergado pelo tempo E pelo vento? Ah, o tempo! Sempre tão inconstante e cruel De repente, escurecia e o céu e aí, haja força! O sopro furioso da Coisa Que balançava as estruturas (por isso a envergadura!) Por isso a descompostura. Já sem identidade, Borrada pela liberdade de expressão (mas e a educação?) Não existia. Só tinha a total falta de respeito Pela velha placa Fixada na avenida, esquecida pelos carros indo e vindo A tudo e a todos resistindo, Ironicamente implacável.

Read More