Na reunião da diretoria, eles entraram na sala e expulsaram a copeira apenas ao gesto de ignorá-la.
Miniconto 171* – Relance
Ele descendo a escada rolante e meu coração subindo a escada cardíaca.
Refluxo
Práxis
Miniconto 170* – Disfarce eufônico
No trajeto para casa o balançar de cabeça no ritmo da música era sempre de olhos fechados. Uma estrela que se preze nunca revela o sentimento por trás do olhar.
Miniconto 169* – Imagine
Sua defesa contra o lamento era o pinga-pinga do telhado furado que ela ouvia combinando cada vez com ritmo diferente.
Miniconto 168* – Lamento
Despejava todos os dias eu seu trono privado a realeza que nunca usufruiu na vida pública.
Miniconto 167* – Martírio
Quando não conseguiu mais expressar-se em tinta preta, manchou toda a folha em vermelho.
Miniconto 166* – Conde
Era de uma vitalidade, charme e sedução enfeitiçantes, diziam. Para o espelho, o nada.
Miniconto 165* – Conveniência
A febre era tão grande que vários dos veículos importantes já anunciavam a nova doença: Amnésia Política.
Miniconto 164* – Improviso
Assim que disseram que ia ter que amputar uma das mãos, começou a pensar em como ia se tocar ao mesmo tempo que segurar o binóculo que mirava a janela da Leninha.
Miniconto 163* – Frouxidão
Quando Carlão chegava aquela hora e daquele jeito, não era só a maquiagem que ela borrava.
Miniconto 162* – Desencontro
Ela se perdia nele enquanto ele, perdido, aos poucos perdia ela.
Miniconto 162* – Opoente
Ela passava o dia pensando em como ele poderia aquecê-la quando chegasse em casa. Ele pensava numa gelada.
Miniconto 161* – Maria
Miniconto 160* – Displicência
Miniconto 159* – Ritual
Miniconto 158* – Delírio
Miniconto 157* – Timing
O chico chegou mais cedo quando o Chico quis chegar mais longe.
Miniconto 156* – Mãozinha
O consolo era estimulado pelo casal que morava no apê de cima que, para o seu prazer, era muito performático.
Miniconto 155* – Volúpia
Só tortos entravam no reto.
Assimetria
![]() |
Foto by Bukowski |
A preço de custo
Eu te beijei
Segui sua sombra
Vivi abaixo
Perdi escrúpulo
Eu te abracei
Você se foi
O que sobrou
Financiei
Fiz fantasia
Depois passei pra frente
Não teve mais a gente
Restou o eu sabia.
Era feito uma prancheta
Pintada de nuances, muitos
Dissabores
Amores
Horrores, mútuos.
Miniconto 153* – Capricho
Em menos de cinco segundos, travou uma luta contra os lábios trêmulos, a voz falha e as lágrimas proeminentes, mas disse:
Miniconto 152* – Não-notável
Virou o rosto e deu a cara pra bater, no poste.
Miniconto 151* – Esperança
Abria as portas e janelas todas as manhãs, mas às vezes nem o sol vinha lhe visitar.

Palhaçada, marmelada e muito mais
Hoje é o Dia Mundial do Teatro e do Circo.
Para comemorar, ontem rolou no Theatro Municipal de São Paulo um espetáculo incrível. Mas, como não poderia deixar de ser em um evento “público”, também rolou muita palhaçada e marmelada.
Basicamente, a Prefeitura de São Paulo divulgou o evento, que aconteceria às 20h, prometendo a distribuição de ingressos lá na entrada uma hora antes do início. Às 18h supostamente já não tinha mais ingresso, e só umas mil pessoas estavam aglomerando na Praça Ramos de Azevedo. Muitas madames, assessores e amigos políticos tinham acesso livre. Maravilha.
Resumindo, às 20h45, depois de muita confusão, gritaria e protesto, finalmente alguns dos pobres mortais que estavam lá esperando há quase 3 horas conseguiram entrar.
Foi minha primeira vez naquele lugar e óbvio que fiquei me perguntando: por que não tinha vindo aqui antes?
![]() |
Status: adentrando o Theatro pela primeira vez depois de horas na fila. |
O espetáculo foi uma junção de circo e poesia, reunindo vários dos maiores nomes entre palhaços, acrobatas, trapezistas e outros artistas que garantiram muitas risadas e engajamento do público (no meu caso, também algumas lágrimas).
Resumindo a experiência, o Theatro deveria entrar para lista dos “500 Lugares para Visitar Antes de Morrer”, é só torcer para que você não tenha que depender da Prefeitura para conseguir entrar, claro.
[sem-ti-mentalismo]
Sou romântica demais para ser leve. Sou pesada demais para não ser gente. Sou gente demais para fingir que felicidade é estado natural. E, para completar, não tenho tempo (nem têmpora) para processar isto tudo antes de verter pesamentos, assim, românticos demais.
[passagem]
Perdi o momento em que nós nos perdemos um do outro, deixando aquele gosto amargo da ausência de algo que, na verdade, nunca vivemos.
Só lá se ♫
Se eu não tivesse
Ou vives.se
Sem.ter.tido
Seu seio,
A mim anexo
Se.melhante
Se.ria uma poesia
Se.gregada
Sem se.ntido
Sem nem comigo
Nem com nada.
Miniconto 149* – Ciclo
Cessaram.
Miniconto 150* – Trago
Miniconto 148* – Perto de um final feliz
A paixão ficou clara no escurinho da sala.
Miniconto 147* – Aspiração
Acompanhava a morte do sol todas as tardes com veemente empatia.
Miniconto 146* – Despejo
De repente percebeu-se voando enquanto o avião foi ficando distante.
Miniconto 145* – Revés
Abriu o guarda-roupa e optou pelo otimismo, que raramente usava.
Choveu aquele dia.
Miniconto 144* – Prudência
Tinha um cheiro sepulcral
Esguichos de sangue por todo lado
E o corpo bem no meio
Mas pra Tia Lalá a decoração da sala ainda era de muito bom gosto.
Miniconto 143* – Prostração
Miniconto 142* – Festa de Família
Todas as primas cruzaram as pernas quando o Cézinho levantou pra falar.