De repente percebeu-se voando enquanto o avião foi ficando distante.
Minicontos
Miniconto 145* – Revés
Abriu o guarda-roupa e optou pelo otimismo, que raramente usava.
Choveu aquele dia.
Miniconto 144* – Prudência
Tinha um cheiro sepulcral
Esguichos de sangue por todo lado
E o corpo bem no meio
Mas pra Tia Lalá a decoração da sala ainda era de muito bom gosto.
Miniconto 143* – Prostração
Miniconto 142* – Festa de Família
Todas as primas cruzaram as pernas quando o Cézinho levantou pra falar.
Miniconto 141* – Coveiro malvado
Levava flores para ela todos os domingos.
Ela não agradecia, nem nada, mas ele estava convencido que era por causa que o diabo do coveiro tinha cavado fundo demais.
Miniconto 140* – Luto
Miniconto 139* – Meretriz
Seu valor era inversamente proporcional à claridade.
Miniconto 138* – Inércia
Miniconto 137* – Repelência
Miniconto 136* – O que não sai
Miniconto 135* – Saudade
Miniconto 133* – Fonoaudiólogo
Questionou, ainda sem poder ouvir a si mesmo:
— Vv-aai fi ficar, se-e-éé-quela-as, Doutor?
Miniconto 132* – No cardápio
Amor mal passado
Ao molho sem você.
Miniconto 131* – Olência
Vi Olência sair do mercado
Carregando um punhado de sonho
Outro de liberdade
Tinha um arroxeado no olho
Lembrando-a que tudo aquilo era muito caro.
Miniconto 130* – O Bruto
O escritório era um aquário. A casa era uma jaula. A rua era selva. Por essas e outras fazia jus ao título de animal.
Miniconto 129* – Esperança pascoalina
Esperou o coelhinho por horas até descobrir que ele não poderia vir porque tinha um compromisso importante com o Papai Noel.
Miniconto 128* – Pecado da carne
Prometeu não comer carne até a sexta-feira santa, mas não pôde resistir aos encantos da Lili.
Miniconto 127* – Pré dia da mentira
O domingo era data perfeita para justificar os quilos a mais e o excesso crônico de chocolate. Na segunda, lidaria com tudo começando a velha “nova dieta”.
Miniconto 126* – Faro(este)
Miniconto 125* – BOLOvolência
Por mais justo que quisesse ser, a parte do bolo que cabia àquele amigo era sempre maior que dos outros.
Miniconto 124* – Pranto
Os pingos correntes de água salgada faziam cócegas em seu rosto muitas vezes, e ela não achava nenhuma graça.
Miniconto 123* – Sincronia feminina
Comprou aquela lingerie, aquele salto e aquele perfume. Mal sabia que ele já tinha visto tudo aquilo algumas noites antes.
Miniconto 122* – Credibilidade
Se eu contar que sofro de uma doença crônica que faz com que eu minta a cada dez palavras, ninguém acredita.
Miniconto 121* – A chocólatra
Terminou o namoro dentro do supermercado, para não sofrer tanto com a saudade.
Miniconto 120* – Alcoolismo amigo
Servia-se de mais um copo por cada amigo que não tinha ido à festa.
Miniconto 119* – Sonho de criança
Plantou o pé de feijão e rezou para que crescesse rápido. A reza enviesou e em pouco tempo começou a pedir diariamente para voltar a ser criança.
Miniconto 118 * – Corinthians, Libertadores e Mitos.
Temente, a primeira coisa que fez ao ver o time conquistar o título foi digitar no google: teoria do fim do mundo.
Miniconto 117* – A vida da Mulher da Vida
Sua maior frustração foi descobrir que seus diplomas de economia e administração não lhe serviram em nada na hora de dar o preço do programa.
Miniconto 116* – Reflexo distorcido
Miniconto 115* – Plano secundário
Era expert em planos estratégicos, orcamentários, táticos, operacionais e etc. Só travava quando o assunto era o plano de sua vida.
Miniconto 114* – Declaração de amor 2.0
Miniconto 113* – Disfarce
Atualizou sua vida virtual com uma vontade tão grande como aquela que tinha de atualizar a si mesma. Nada estava salvo.
Miniconto 112* – Rotina Bancária
Miniconto 111* – Fim de festa
Depois da bagunça serviu-se de mais um bolinho, dessa vez com o tempero especial das lágrimas. Parecia ter ficado mais amargo.
Miniconto 110* – A prostituta
Perdia-se em tantos que, um dia, viu-se perdida em si mesma.
Miniconto 109* – Solitude
Sua única amiga chamava-se Caixa Postal e era boa ouvinte, apesar de pouco desenvolta na fala: “Não há novas mensagens”.
Miniconto 108* – O designer
Coloria virtualmente os desenhos, para sobreviver em sua própria vida em preto e branco.
Miniconto 107* – Casualidade
O ponto mais alto da relação foi debaixo dos lençóis.
Miniconto 106* – Subentendimento
Das palavras que dizia, as mais bonitas eram as que não se desprendiam do coração para chegar à boca.