Dentro do quarto disforme, alguma coisa se agita incansavelmente, deixando o ar pesado e árido, quase impossível de inalar (antes não fosse possível…)
Líquido vermelho é distribuído e, logo depois, retirado numa carreira de linhas azuis e vermelhas que trabalham com rapidez incomum, como se respondendo às ordens de alguém com muita pressa, ou muita bravura. (Sendo a segunda opção a mais próxima da realidade…)
Algo ácido se mistura com o líquido vermelho, causando uma sensação de enjoo já conhecida pela construção que comporta o quarto: aquela revolta irritante dos fluidos impulsionados pelo liquidificador que, ao mesmo tempo que os mistura, vai dilacerando cada parede de quarto, abrindo feridas que há muito não ficavam expostas, e trazendo à construção um ar cansado e triste.
Para melhorar a confusão, tudo vira-se de cabeça pra baixo, e depois volta ao normal, para tornar a virar, numa sádica brincadeira desordenada que faz o prédio balançar e, por vezes, desabar em cinzas, para reerguer-se em seguida, como Fênix.
No decorrer dessa agitação cotidiana, a garota sente cada vez menos vontade de permanecer, até por que, absolutamente perdida se sente, nos labirintos da construção que a sustenta há 19 anos.
(Que injustiça perder-se nas próprias bases…)
Cinza e frio, o cimento-alicerce à garota serve como consolo, subtraindo o sonho pela necessidade de manter-se erguido.
Coisas que acontecem.
Muito bom descobrir que, além de genial minicontista, você é também uma invejável contista (sim, palavras que não sei se existem, mas uso). A elegância com as palavras é de um arrojamento de dar inveja em muito escritor profissional e “rodado”. Já pensou em publicar? Eu apoio e compro (e quero cópia autografada, claro!)
Com um comentário desses até caso com você, se quiser! Rs (como se não fosse a intenção de verdade)