Era o comentarista mais assíduo do blog da namorada, até o dia em que ela postou o pequeno texto com o título “Finalmente, estou solteira”.
Month: Março 2010
Miniconto 81* – Por que não eu ?
Depois de muitos anos sofrendo com a castidade, aceitou ser qualquer uma, já que esse era o único jeito pelo qual ele poderia desejá-la.
Máquina de charme
Estava se achando.
A blusinha colada no corpo, com aqueles detalhes rendados que levavam qualquer olhar até seu colo, sem espaço, coitado, de tanto os seios pularem.
E aquela saia super fashion de retalhos? Só retalhos, diga-se de passagem, que quase não cobriam a região da danada.
Nos pés, uma sandália trançada até a batata da perna que contrastava com o próprio humor da garota: nem um pouco amarrada.
As unhas, uma de cada cor, denunciavam o desprezo pela preferência de cores e amores.
O cabelo, geralmente preso, corria pelos ombros ainda molhados, esperando que qualquer um pudesse secá-los. Ou, quem sabe, encharcá-los ainda mais.
Todas as atenções estavam, distraidamente, voltadas para ela.
E a figura, consciente disso, espalhava o charme tanto quanto o ventilador fazia com o cheiro de seus cabelos.
Só um detalhe, um único detalhe, não permitiu que a situação lhe deixasse perfeita: da nuca, sem a menor vergonha, um fio se mostrava, vermelho e vívido, esperando a conexão de vida.
Miniconto … – Oito ou 80*
Pelo amor ou pela dor…
— Deixa para a gente tentar amanhã de novo, por favor!
Miniconto 79* – Passando a borracha
Trancou toda a casa e incendiou tudo que lembrava a ex-mulher, inclusive o filho, pelo qual lamentou até o último minuto antes de atirar na própria boca.
Sua filha que se chama Ideia
Li um post no twitter hoje: “como concretizar a criatividade?”, e fiquei me perguntando como pode uma pergunta que está na sua cabeça há dias ser proferida pela boca – no caso, pela timeline – de outra pessoa?
Putsgrila, quando você acha que tem a ideia mais incrível do universo (alguém acha isso?), um santo criativo vai lá e pimba! Transforma a sua genialidade em uma cópia muxuruca.
Às vezes, eu acho mesmo que, assim como as ondas sonoras estão passando por nós sem que possamos vê-las, os pensamentos também trafegam pelo ar e – para o azar de muitos publicitários, por exemplo – entram na cabeça de alguém alheio, ou pior: alguém do seu lado.
Ok, você vai pensar que isso que eu estou dizendo é uma viajem (mais que as das ondas sonoras), que eu provavelmente bebi antes de escrever esse post, ou coisa assim.
Bingo! Para a primeira hipótese. Dizem que viajar faz bem.
Pois então, o que eu quero dizer com esse blá blá blá não é blá blá blá: nesse mundo com tantas cabeças pensantes, é importante que sejamos como nossa mãe assim que nos deu à luz: saiu contando para todo o universo que tinha criado algo novo.
Imagina se ela tivesse escondido a novidade? Que graça teríamos nós? Saca qual é?
Uma ideia é como um filho: tem que ser posto para fora de qualquer jeito.
Esconder uma ideia é ir contra a natureza humana. Viu como é filosófico?
Mas não é para ser filosófico, é para ser prático.
Escrevo isso não só para todos que lerão esse post algum dia, mas também para mim mesma, que – como qualquer criativo – sempre estou grávida. E, muitas vezes, parto uns bichos esquisitos, feinhos, tipo E.T. mesmo.
E, enquanto o meu lado anjinho diz “Assume que o filho é teu”, o diabinho cutuca “Isso não serve para nada”.
Serve. Sempre serve. Mesmo que só para lotar a lixeira do seu PC.
A única serventia que tem uma ideia guardada, é ser agonia de não ter dito nada.
#etenhodito
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Gessica Borges é publicitária em formação, leitora por vocação, escritora em construção e criativa em constante contradição: tem um montão de idéias guardadas.
Miniconto 78* – Buquê eterno
Diariamente sentava-se ali, com as flores firmemente presas aos braços, esperando que qualquer mulher que se chamasse Luana Cervantes da Rocha pudesse aceitá-las.
Miniconto 77* – Fone do Paraguay
Esgoelava-se o dia inteiro num ambiente de trabalho sujo e pequeno. Consolava-o fato de que em 3 semanas estaria aposentado e livre daquele pavilhão.